![]() |
André Murraças
Regularmente Irregular
CD Roda 2024
«Regularmente irregular» é o corolário de uma carreira que se vem afirmando tranquilamente. Diria que o disco surge, não como uma decisão, mas naturalmente, conforme a banda se ia consolidando e os temas iam surgindo: «Regularmente irregular» é por isso um disco óbvio.
Tudo em «Regularmente irregular» sugere equilíbrio e premeditação e é muito curioso que depois de um punhado de baladas ele vá crescendo em intensidade, culminando num “Track Two” onde o frenesi rock espreita num desfecho que acaba por ser ele, afinal, também natural.
Murraças possui um som de saxofone lírico e algo doce (que me recorda por vezes o som do grande e injustiçado Hank Mobley), fluente, que nunca se eleva, e que nunca se distrai em devaneios atonais – e as suas referências são irredutivelmente pré-coltranianas. O que parece estar fora de moda, mas que, diríamos, não parece preocupar muito o saxofonista. Os devaneios mais arrojados ou menos canónicos, deixa-os Murraças para a guitarra de João Carreiro ou a impulsiva e eficiente secção rítmica, onde pontuam o guru Luís Candeias e o proficiente Francisco Brito.
O equilíbrio e coesão da banda são sempre evidentes, e é sempre também evidente que ela ajudou a construir os temas na sua interpretação, como deve ser sempre no Jazz.
Tranquilidade, equilíbrio, um excelente primeiro disco do «rapaz da Nazaré», na minha lista dos melhores do ano.
André Murraças (st)
João Carreiro (g)
Luís Candeias (bat)
Francisco Brito (ctb)